segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Os mais sem-noção da ficção

Inspirada nas listas que circulam na Internet e nas coisas inacreditáveis que se vê e ouve por aí resolvi listar os dez personagens mais “sem noção” da ficção, divididos nas categorias “Da hora”, “Recentes” e “Das antigas”. Confesso que algumas dessas malas, apesar de sem noção são até adoráveis, mas há também aquelas que ninguém merece. Escolham a sua preferida e embarquem nesta viagem pelo mundo das novelas.Ah, e se quiserem acrescentar alguma mala esquecida, fiquem à vontade.


DA HORA


Gustavo Brandão (Cama de Gato) – O cara só agora descobriu as armações da ex-mulher, apesar de ter sido avisado por praticamente todos os personagens que a ex era uma “víbora”.Preferiu brigar com o irmão, o melhor amigo, os pais, a namorada e mais meio mundo. O pior é achar que Alcino – que está morrendo - tentou matá-lo porque tinha inveja e ia ficar com tudo que era dele.

Izabel (Viver a vida) – Sua falta de noção está no fato de falar o que quer, sem o menor pudor, mesmo que os outros não estejam nem um pouco dispostos a ouvir. Mas, sejamos francos: Izabel costuma dizer a verdade e nós bem que nos divertimos com o seu jeitão.

Dora (Viver a Vida) – O oposto de Izabel, não é nada sincera. Mesmo tendo descoberto que o amante de Búzios é marido de sua patroa,não abre mão do emprego de secretária e de permancer na casa dela. E ainda trai Helena bem debaixo do nariz dela.


RECENTES


César e Ilana (Caminho das Índias) – estes pelo menos eram sem-noção divertidos. Almas gêmeas, César e Ilana batiam palma para todas as atrocidades cometidas pelo filho pitboy e diziam as maiores barbaridades com toda naturalidade do mundo.


Raul Cadore (Caminho das Índias) – Merece medalha de ouro na categoria sem noção. O cara roubou o irmão, abandonou mulher e filha, se fingiu de morto e foi para Dubai, ficar tomando drinks na piscina com a amante. Ah, e deu a chave do cofre de sua casa para ela, que claro, muito merecidamente roubou tudo que ele tinha. Acabou algemado pela própria numa cama de hotel numa das maiores pagações de mico da história televisiva


Irene (A Favorita) – Esta é do time do Gustavo. Brandão. Mais um exemplo de personagem que não consegue ver nada além do que tem diante dos olhos, fazendo jus ao apelido de “Anta”, tão gentilmente dado por sua querida psicopata Flora.


DAS ANTIGAS


Carmosina (Tieta) – A fofoqueira solteirona se aproveitava da sua condição de funcionária do correio e no bico da chaleira violava tudo que era carta que lhe chegasse as mãos.Mais sem noção impossível

Heloísa (Mulheres Apaixonadas) – A irmã de Helena sufocava o marido bonitão com seu ciúme excessivo e cometeu os mais variados desatinos para que ele não fosse de mais ninguém.

Sandrinha (Torre de Babel) – Explodiu um shopping!!!

Manon (Roque Santeiro) – essa se apaixonou por um lobisomem. Precisa dizer mais?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

UM CASAMENTO, UM FUNERAL E UMA GALINHA

Acreditem se quiser, mas, a história abaixo é baseada em fatos reais. Divido-a agora com vocês.

Sábado, seis horas da manhã: acordo assustada antes mesmo do galo cantar (ou pelo menos assim seria, se um galo houvesse no meu apartamento). Preciso fazer tudo às pressas: escovar os dentes, pentear o cabelo, fazer a mala.
A parte da família que mora na cidade grande alugou uma Van e dentro de alguns minutos estaremos todos partindo para o interior a fim de prestigiar o matrimônio de um primo querido.
A van chega e desço ainda penteando os cabelos. Sou a última a entrar e cumprimento os que já estão alojados. Mas é preciso arrumar lugar para minhas roupas, inclusive para o vestido de festa. Para não fugir à regra feminina, levo uma mala, uma valise, um cabide com a roupa da festa e já arrependida pergunto a mim mesma o que será que eu faria se fosse ficar uma semana ao invés de um dia. Empurra daqui, ajeita dali, ajuda de cá e com algum custo a família consegue acomodar minhas bugigangas (embora certamente estivessem com vontade de jogá-las pela janela, juntamente com a dona).
Todos devidamente alocados seguimos viagem. Alguns dormem, outros aproveitam para colocar o papo em dia, até que no meio da estrada o telefone de alguém toca e chega a fatídica noticia: Zé Conchinha morreu!!
Tremendo rebuliço. O falecido morava na roça há muitos anos e era tremendamente querido na região, um dessas figuras folclóricas que fazem a graça das cidades do interior. Imediatamente me passam pela cabeça dois pensamentos. Primeiro: O morto não é da família dos noivos, não vai atrapalhar o casamento. Segundo: A vantagem dele ter morrido hoje é que vai dar pra economizar tempo e transporte.
E assim, o que era uma viagem para prestigiar um enlace matrimonial s desdobra também em uma viagem para acompanhar um enterro. Quando vejo, estamos discutindo com que roupa iremos ao enterro, afinal havíamos nos preparado para um casamento. Certamente não pegaria bem aparecermos no cemitério com nossos longos e smokings. Fui salva por uma tia que, havia levado umas roupas extras e se prontificou a me emprestar uma. Prevenida, ela já havia contado com a possibilidade de Zé passar desta para melhor na ocasião de nossa visita, posto que ele se encontrava naquele estado de “morre- não –morre”.
Após horas de viagens, alguém se deu conta de que era chegada a hora de nos arrumarmos para a festa. Havia só um probleminha: Onde?
A família dos noivos já havia ido para igreja e nos outros locais não havia espaço adequado. Por falta de opção e correr do relógio, sobrou a casa da família do falecido.
Mesmo arrasado, o irmão do finado nos recebeu muito bem, como é costume das pessoas simples da roça. Só que não deu nem tempo dele agradecer os pêsames e já estávamos pedindo se podíamos nos arrumar ali mesmo para festa. O coitado do homem não teve muito que fazer, quando viu já estávamos agilizando o nosso lado. Mas ele ainda conseguiu dizer que além do banheiro social, também havia um em seu quarto que poderíamos usar.

Foi um pouco constrangedor ir tirando o vestido e a maquiagem e toda a parafernália da mala, ao mesmo tempo em que manifestava os meus sentimentos pela perda, mas o que se há de fazer... são as contingências da vida (ou da morte, sei lá). Porém o mais insólito ainda estava por vir... Ia eu entrando no banheiro, quando da soleira avisto uma galinha!! A mesma estava a alguns passos de distância, mas o suficiente para que eu levasse um susto. E diante do meu grito, ainda tive que ouvir de alguém : “Antes de entrar no banho dá uma olhada se não tem galinha no boxe”. Por um momento, achei que estavam brincando e contive o riso apenas em solidariedade ao luto dos donos da casa. Mas logo percebi que ninguém ali estava pra brincadeira. Acho que na roça o direito constitucional de ir e vir é assegurado também as galinhas. Tal como acontece com cachorrinhos de madame nas cidades, as galináceas recebem tratamento vip. Nada de restringi-las somente ao galinheiro. Sendo assim, podemos perfeitamente encontrar uma galinha placidamente ciscando aos pés do sofá, beliscando algo na cozinha ou alojada em cima de uma cama, sem que ninguém a incomode.
Mas, infelizmente como “cria da cidade grande” que sou não estou acostumada com tanto natureza. E, assim, quando dei por mim estava quase paranóica, vasculhando cada canto do banheiro a fim de garantir que meu banho não seria interrompido por nenhuma penosa inconveniente.
Findo o banho, foi preciso verificar se não havia nenhuma pena no vestido e seguir com os preparativos. Mais alguns minutos, e todos estavam prontos. E assim elegantes e, graças a Deus, livres de pena seguimos para a festa que nos aguardava. Antes que pensem que eu e minha família somos insensíveis cabe esclarecer uma questão. Quando digo sem pena, é no sentido literal, pois é claro, sentíamos compaixão pela família que nos acolheu mesmo numa hora tão difícil (e emprestou banheiro, espelho e tudo mais). Embarcarmos de volta na van, e ouvimos os votos de boa festa enquanto prometíamos que iríamos ao enterro no dia seguinte.
Ocorre que o casamento demorou mais do que o previsto. A noiva, para não fugir a tradição, atrasou. E na festa, era preciso colocar o papo em dia com aquela parte da família que só se vê nas férias, em casamento e em velórios. Sendo assim, quando vimos a hora já estava avançada e ainda era preciso resolver um pequeno problema: o local para dormir. Cogitou-se dormir na van, até que um tio bondoso ofereceu sua casa próxima ao local das núpcias e, exaustos, aceitamos de bom grado.
No fim das contas deu tudo certo, exceto pelo fato que eu estava tão cansada que só deu tempo de colocar a roupa de dormir e desmaiar em cima da cama de alguém, desalojando o infeliz dono do quarto. Mas isto só percebi ao acordar no dia seguinte com um zum-zum-zum. Pensei que o barulho era porque estavam todos se arrumando para o enterro, mas me equivoquei. Estavam voltando!!! Dormi tanto que perdi a hora da despedida final! Mas, pelo menos, fui posta a par dos acontecimentos por aqueles que lá compareceram: Zé Conchinha foi enterrado muito dignamente, da maneira que sempre sonhou. Em uma das mãos, o pandeiro, velho companheiro das rodas de seresta que tanto gostava. E no caixão, ao invés de manto ou bandeira, repousava singela apenas uma pena. Era a última homenagem de Anastácia, sua galinha de estimação.