domingo, 17 de janeiro de 2010

Mais estranho que a ficção

Assisti em dezembro passado a uma palestra do novelista Manoel Carlos e no meio da sua explanação ele citou uma frase da qual gosta muito e da qual não recorda o autor, algo mais ou menos assim "O problema da ficção é que ela tem que fazer sentido, a realidade não".
Na mesma hora me lembrei dos noticiários da TV e de muitas coisas que não fazem sentido:
uma criança que resiste e vive apesar das agulhas enfiadas no corpo por um padrasto cruel;
uma criança que cai na linha de uma estação de metrô, é atropelada pelo trem e sofre apenas escoriações leves;
A queda de uma viaduto numa avenida movimentada de São Paulo, sem vítimas fatais.
A demora de mais de uma semana para enterrar o corpo de um astro pop mundialmente famoso e a transformação de seu funeral em um grande evento;

E para recuar um pouco mais no tempo, o inacreditável esqueleto do que deveria ser a cidade da música, fincado bem no meio da Barra da Tijuca. Toda vez que passo pela finada - e gigantesca - obra, penso nos milhões mal aproveitados que foram empregados ali e fico imaginando seu futuro. Será que um dia será concluída? Ou será que daqui há 1.000 anos guias a apresentarão aos turistas da seguinte maneira:
- Aqui estão as ruínas da Cidade da música, aquela que foi sem nunca ter sido.
Meu amigo, menos otimista, acha que a obra vai servir de esconderijo para criminosos e virar um antro do mal. Espero que ele esteja errado. Mas como a realidade não faz mesmo o menor sentido...