quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O que vale a pena em 2010, 2011 ou qualquer ano

Uma das coisas legais que a internet permite é conhecer pessoas de todos os cantos, trocar ideias, compartilhar dicas interessantes e este é também um dos objetivos do folhetimblog. Portanto, fiz um pequeno apanhado do que acredito que vale a pena conferir no momento, dicas que daria para meus amigos. Cada uma delas valeria um post, mas, por enquanto vou me contentar com o resumo. Vamos lá

No teatro Tango, Bolero e Chá Chá Chá - Foi graças a essa peça que me apaixonei por Edwin Luisi anos atrás. Que ator! Vê-lo nos palcos é um presente para qualquer público. E a peça, uma delicia, nos faz rir do começo ao fim. Ainda não pude conferir a nova montagem, mas recomendei para várias pessoas e aqueles que me ouviram adoraram. Vale a pena para qualquer um que como eu seja apaixonado por teatro

Além do Arco-íris - Se Edwin Luisi me encantou nos palcos, Luciana Braga chamou minha atenção pela primeira vez, quando eu ainda era adolescente, na novela Tieta. Como torci para que Imaculada conquistasse seu príncipe na época. Esta foi uma novela que me marcou e, Luciana, foi um dos motivos. Desde aquela época quando pensava vagamente em ser roteirista sonhava com ela para estrelar um trabalho meu. E agora, muitos anos depois, tive a oportunidade de vê-la no teatro dando vida ao belíssimo texto de Flavio Marinho, que merecidamente ganhou o Premio Shell. Poesia, lirismo, humor e melancolia. Uma peça que nos leva do riso as lágrimas e das lágrimas ao riso, coisa rara de se ver.

Ti Ti Ti - Que bela homenagem a Cassiano Gabus Mendes. O texto de Maria Adelaide Amaral e colaboradores é inspiradíssimo, como a muito tempo eu não via numa novela das dezenove horas. Além disso, nada destoa: Direção, elenco, produção. Há muito tempo não ria tanto com uma novela. A parte dramática, composta pelo núcleo de Marcela e companhia, também não destoa, pelo contrário tem um texto belíssimo.

500 dias com ela - vale o aluguel do DVD. Logo no inicio somos avisados de que se trata da história de um rapaz que conhece uma garota, mas que não se trata de uma história de amor. E a partir daí somos convidados a acompanhar e a nos deliciar com a história da pragmática Summer e do romântico Tom.

Clandestinos - Quis ver a peça, mas, acabei não conseguindo. Mas a série de TV me fez torcer para que volte logo aos palcos a história "desses moços e moças que sonham ser artista nesta cidade".

Enfim, estes foram alguns dos programas que ajudaram a tornar meu ano de 2010 mais divertido e, que espero o de vocês também. Alguns ainda permanecerão em cartaz no ano que virá e ajudarão a fazer valer os meus votos de um 2011 mais alegre, divertido e com muita ternura.
FELIZ ANO NOVO!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Tititi - Sem perder a ternura jamais



Quando se trata de ficção, pode até não haver regras para o sucesso, mas uma boa história é, com certeza, mais que 90% do caminho.
Fã assumida de telenovelas e de boas histórias, percebo com certa tristeza que não consigo mais assistir determinadas obras porque são só angústia,do princípio ao fim. Como posso passar meses assistindo uma obra que não tenha uma única cena que me faça sorrir?
É aí que Ti-ti-ti ganha pontos no momento atual. A novela é repleta de ternura. Há muito tempo não via cenas com tanta poesia e delicadeza. O texto de Maria Adelaide Amaral & Companhia jamais é constrangedor, mesmo que a situação que o personagem viva na tela o seja. Podemos assistir sem susto, sabendo que vamos nos divertir e que o entretenimento é garantido. Há desde cenas desvairadamente cômicas, como as de Jaqueline até cenas mais sutis, que simplesmente nos arrancam um sorriso inesperado dos lábios, como as que se referem a amizade de Julinho com Marcela e Bruna e a relação de Ari e Marta. Isso, sem contar, o carinho de Suzana e Ary pelo filho Luti, dos irmãos Mabi e Lipe um com o outro, a relação da família Sampaio com os "abrigados" Marcela e Julinho e com as crianças do Hospital, o romance de Edgar e Marcela, Ary dançando com Cecília na clínica ou a "Titia" encantada com o príncipe Luti e a menina Mabi ... os exemplos são inúmeros.
A novela é ainda repleta de citações pop e uma grande e carinhosa homenagem não só a Cassiano Gabus Mendes, como a televisão brasileira. É impossível para quem, como eu, sempre gostou de TV não sorrir ao ver Suzana sendo chamada de "Fera Radical" ou Luti sendo chamado desdenhosamente por Jacques Leclair de "Galãzinho de Malhação". Sem contar, Jaqueline dançando e cantando músicas da Xuxa, em cenas hilárias!
Num mundo com tanta violência, repleto de guerrilhas urbanas, é um alivio poder respirar por alguns minutos com a poesia de Tititi e ter o prazer de assistir uma obra que tem um texto repleto de ternura e atores maravilhosos que lhe dão vida. Tomara que venham mais novelas assim. Para mim, Ti-ti-ti já é a melhor de 2010.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Dica Quente: A história de nós dois

Como todos os meus amigos sabem, sou apaixonada por teatro. Só não frequento mais porque as finanças não permitem. Por isso, sempre fico contente quando chega a época da Promoção "Teatro para Todos", da Associação de Produtores de Teatro do Rio de Janeiro.
Este ano aproveitei para assistir uma peça na qual já estava de olho há tempos: "A história de nós dois", com Alexandra Richter e Marcelo Vale.
Foi um tiro certeiro. A comédia romântica emociona e faz rir na medida certa. Para quem vive ou viveu um relacionamento a dois, é impossível não se identificar com as situações mostradas no palco e é daí que vem a maior parte da graça. Sem contar, que os atores são ótimos!
No fim da peça, Alexandra e Marcelo agradeceram o público, que aplaudia de pé e repetiram o velho pedido do povo de teatro: se gostaram indiquem aos amigos, se não gostaram se calem. Pois bem, vou atender ao pedido dos atores, pois acho que o que é bom deve ser compartilhado. A peça é simplesmente uma delícia. Podem acreditar, não é a toa que está em cartaz a mais de um ano, somente na zona sul do Rio e que o texto de Licia Manzo foi indicado ao Prêmio Shell 2009. Vale a pena conferir.

domingo, 19 de setembro de 2010

Seminário Brasil, Brasis: Telenovela e Literatura

No final de agosto, estive na Academia Brasileira de Letras, no Rio, para assistir ao Seminário Brasil: Brasis. O assunto do dia era "Telenovelas, séries televisivas e literaturas" e a mesa composta por um time de primeira: A repórter do jornal O Dia Regina Ritto, o Doutor em sociologia da informação e Professor da UFRJ, Muniz Sodré, o diretor da Rede Record, Ignácio Coqueiro, o ator José Wilker e os novelistas da Rede Globo, Gilberto Braga e Walcyr Carrasco, com a mediação do escritor Domenico Proença.
Regina Ritto abriu o seminário fazendo uma comparação entre o trabalho do repórter televisivo nos anos 80 - quando iniciou sua carreira – e nos tempos atuais. Ela, que já foi colunista e chefe de Redação das Revistas Contigo! e Manchete e roteirista do Domingão do Faustão e do Vídeo Show, comentou que antigamente era mais fácil conseguir acesso direto aos artistas e matérias exclusivas, já que não era comum a figura dos assessores, tampouco redes sociais e paparazzos. Mas hoje é preciso correr muito atrás de um furo para conseguir a melhor matéria. Sobre telenovelas afirmou que refletem a tendência de sua época desde os anos 70, quando deixaram de lado os dramas cubanos e nacionalizaram-se e que, embora, não sejam literatura, tornaram acessível ao grande público clássicos com que jamais teriam contato se não fosse através da televisão, como por exemplo, Helena e Escrava Isaura, dentre outros. Esta afirmação de Regina, classificada por Domenico como polêmica, de certa forma deu o norte do debate e conduziu o resto da discussão.
Para o Professor Muniz Sodré telenovela é literatura sim, mas, de outro tipo. As mesmas marcas tradicionais da literatura são trabalhadas nas telenovelas, isto é, as condições humanas que a ferrugem do tempo não corrói: o medo, a traição... A narrativa se faz presente nos dois casos, sendo que o romance foi incorporado à escola e as novelas a esfera do consumo. Sodré acredita que há uma semiose entre literatura e teledramaturgia, sendo que a segunda tem mais a ver com a forma do que com o conteúdo. Em sua opinião, o fato de não existir critica literária para telenovelas é o que faz com que se diga que não é literatura, como se a obra precisasse passar pelo crivo desta critica para adquirir tal status. Acha, porém, inútil discussões sobre o que é o artistico no artistico. Ele definiu telenovela como “a narrativa folhetinesca tecnicamente iluminada”, isto é, como a transposição dos antigos folhetins para o meio eletrônico, floreada pelas novas tecnologias. Disse que as telenovelas fazem uso de realidades míticas e do real histórico e exemplificou com o fato de que todas as novelas de fazenda tem algo de Gilberto Freyre e um leve tom de incesto. Para o professor, a novela é um pastiche de outros tipos de narrativas já feitas e isto não é algo negativo. Uma história bem contada tem futuro. A sutileza do texto intervém na forma e vai direto à consciência, seduz o leitor/espectador. Ele falou ainda que determinados textos de teledramaturgia, sobretudo os de comédia tem esta sutileza e citou como exemplo alguns diálogos da atual novela das 19hs da Rede Globo, Ti-ti-ti. Sodré afirmou que entretenimento é sedução e que após meio-século, a novela continua seduzindo o público através do romance, pois o que o público atual quer é o mesmo que queria o leitor dos folhetins do século XVI: divertir-se e entreter-se.
Á seguir foi à vez de Ignácio Coqueiro, que foi bastante breve e preferiu tentar responder a pergunta “Onde a telenovela vai parar?” O diretor acredita que o futuro do gênero é tornar-se interativo, juntar o internauta com o homem que está na rua e assiste no celular e o que está em casa assistindo TV. Acha que é hora de pensar nas novas tecnologias. Ignácio imagina um futuro onde cada um de nós possa seguir cinco ou seis personagens e acompanhar, inclusive, aquelas cenas que sobram e não vão ao ar na TV. Ele acha que chegará a época em que até mesmo jogos serão propostos. Poderá haver uma novela em que o público vai apostar no que vai acontecer e trocar sua pontuação por prêmios. Ainda assim, deixou claro que o público não interferirá no texto, poderá apenas brincar. A responsabilidade da história continuará sendo somente do autor.
Depois, foi a vez de Walcir Carrasco, que retomou o tema telenovela x literatura. Contou que escreveu 35 livros infanto-juvenis e graças a esta sua experiência concluiu que novela pode não ser literatura, mas, dialoga com a literatura. Walcyr revelou que “O cravo e a rosa” foi a novela que mais lhe satisfez e foi toda feita em cima de “A megera domada”, de onde chegou a tirar frases inteiras. Assim como na peça, não existia a figura do vilão, o mote era o embate entre Catarina e Petruchio, os protagonistas. Quando a novela precisou ser esticada, aí sim precisou mexer na obra e criar uma vilã. Ainda assim acha que a novela funcionou porque Shakeaspeare é um autor muito divertido.
Para Walcyr a diferença básica entre o autor literário e o de telenovelas é que o primeiro tem tempo para burilar a sua obra, pode ser mais profundo. Ele disse que a telenovela se alimenta da literatura e do mito e que há personagens que freqüentemente se repetem nas telenovelas, como por exemplo, A Becky, de Feira das Vaidades, romance escrito por William Thackeray em 1.848 e A prima Bete, de Balzac. Citou até a Bíblia para mostrar que as histórias se repetem o tempo todo, só o que muda é a forma de contar. No Gênesis 39, temos a história de José e da mulher de Potifá, que tentou deitar-se com ele e que como foi recusada rasgou suas vestes e acusou-o de tê-la tentado violentar. Ou seja, nos disse Walcyr, no Novo Testamento já havia a mesma vilã que há hoje nas telenovelas.
Para o autor, as telenovelas tem sim uma orientação industrial, mas, tem também um diálogo literário que a supera e os autores com formação cinematográfica e literária tem mais condições de buscar o diálogo como um todo. Walcyr disse que em entrevistas, sempre lhe perguntam se a Globo interfere no andamento da sua obra, mas, que se houvesse alguém na Globo que soubesse o que mudar quando preciso, se ajoelharia aos pés desta pessoa. A responsabilidade recai mesmo somente sobre o autor.
Assim como Coqueiro, ele acha que a telenovela futuramente vai ter que abarcar as novas mídias. Contou que esteve no Japão e viu por lá mini-novelas de 140 caracteres que passam no celular. Acredita que a novela vai mudar sim, mas não sabe ainda como. Logo a seguir foi a vez de Gilberto Braga, que levou a platéia aos risos quando disse que se sente um velhinho ao ouvir Coqueiro e Walcyr falando sobre telenovelas no celular. Fez uma comparação de si mesmo com seu ex-patrão Roberto Marinho, que segundo ele, era um empresário brilhante e acompanhava tudo a sua volta, mas, quando alguém falava de satélites, cochilava, “tirava o time de campo” Gilberto se sente fazendo “parte desta turma”. Deixou claro que não se sente à vontade com novas tecnologias e discordou de Regina e Walcyr. Para ele, telenovela é literatura. Falou sobre as adaptações de obras literárias que já fez e das motivações que teve para cada uma delas. Escolheu Helena para adaptar por se tratar de uma obra do inicio da carreira de Machado de Assis, seu autor preferido, pois não teria coragem de mexer com uma das obras-primas do grande escritor. Já a escolha de “Senhora” de certa forma, deveu-se ao critério contrário. Gilberto disse não ser fanático por José de Alencar, não o acha um autor tão bom quanto Machado, mas dentre os romances deste escritor, Senhora é o seu preferido. Contou ainda que como na época mandaram esticar a história, tomou liberdades que de inicio não pretendia. Já a adaptação de “A Escrava Isaura,” Gilberto contou que foi recomendação de sua ex-professora Eneida (que ele citou mais de uma vez, com carinho, durante sua apresentação). Ele considera o livro mal-escrito, mas, em compensação acha que tem a melhor story-line que já viu, a da escrava desejada pelo seu senhor e que não o quer. Em sua opinião, esta é uma story-line que mexe com qualquer pessoa porque fala do medo. Atribui o sucesso desta novela ao fato de que todos nós temos medo; ele acha que o medo é o sentimento mais forte que o amor e que todos nós temos medo de quem é mais forte. Contou ainda que pediu para assinar “O Primo Basílio”, que acabou sendo uma “adaptação de Gilberto Braga e Leonor Basseres” e disse que vale a pena assistir a obra em DVD porque o texto de Eça de Queiroz parece um roteiro cinematográfico com suspense e força de personagens.
Gilberto concordou com Walcyr sobre a repetição de determinados personagens em telenovelas. Acha Becky Sharp uma ótima personagem e confessou que já pensou em adaptar Feira de Vaidades, mas, desistiu porque não sabe escrever sem maniqueísmo. Precisa saber quem é o mocinho e quem é o vilão, não conseguiria fazer bem uma personagem tão ambígua. Acha que A Prima Bete de Balzac também seria outra boa novela. Lembrou que os sessentistas reescreveram os gregos e utilizavam para isso o termo imitação criadora. Para ele, não vamos achar nenhuma novidade dentro do ser humano, que é o que o atrai. Contou que se esta nesta “brincadeira, ”isto se deve ao interesse que tem pelo humano.
Gilberto terminou lembrando uma de suas personagens mais famosas, Odete Roitman e dando uma dica preciosa para quem pretende se aventurar no ofício das telenovelas: não adianta lançar mão do recurso do “quem matou?” se o personagem não tiver força dramática. No caso de Vale-Tudo, a trama do assassinato durou exatos nove capítulos até o seu desfecho e, no entanto, todos lembram porque Odete era uma personagem forte, por isto o público se interessou em saber quem a matou.
José Wilker encerrou a apresentação, contando que recentemente acompanhou duas telenovelas em Miami cujo plot era “um sujeito queria alguém e alguém o atrapalhava”. Com um humor um pouco sarcástico, arrancou risadas do público em alguns momentos. Disse que a última novela que se lembra de ter acompanhado foi “Nino, o italianinho”, mas, que desistiu ao ver lá pelo capítulo 200, Juca de Oliveira tropeçar na Aracy Balabanian, beijá-la e no capítulo seguinte pedir desculpas.
Wilker disse que resistiu a fazer TV por muito tempo porque a associava a ditadura até que deixou de ser burro (palavras dele) e aceitou o convite do Dias Gomes para fazer novela. Não sabia nada naquela época e perguntou para o diretor: “Como se representa na TV?” tendo recebido como resposta “Não enche o saco, conta até três e faz”. Foi isso que ele fez e, curiosamente, ganhou vários prêmios como ator naquele ano.
O ator contou que viajou muito pelo Brasil fazendo teatro e sentia que o nosso país na verdade eram vários países distantes e separados, mas, agora quando viaja sente que não é mais assim, vê o Brasil como um país inteiro que não vai mais se dividir em 4 e acredita que as novelas tenham contribuído para isso. Apesar disso, acha que a TV está engessada e que estamos sendo presenteados como uma infinidade de meios de comunicação, mas que não são de comunicação na verdade. A mensagem que Wilker quis deixar é de que o grande trabalho de todos nós será o de nos apropriarmos destes novos conhecimentos para torná-los de fato comunicação.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Teatro para se viver

Com este slogan, começa a partir de hoje, 02/09, em São José dos Campos-SP, o 25º Festivale - Festival Nacional de Teatro do Vale do Paraíba. O Festival inclui 34 espetáculos teatrais, palestras, encontros, exposições uma Oficina de Teatro de sombras.

A abertura será no Teatro Municipal da cidade com a peça "Um navio no espaço ou Ana Cristina César", dirigida pelo ator e diretor Paulo José.

No dia 05/09, como parte da programação, estarei lançando o livro "Teatro e Psicanálise", de minha autoria, juntamente com uma palestra sobre o tema.

Os ingressos para o Festivale são gratuitos e podem ser retirados no local a partir de 1 hora antes de cada apresentação.

A Programação completa pode ser obtida no link
http://www.fccr.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=775:25o-festivale-teatro-para-se-viver&catid=81:festivale&Itemid=88

sábado, 14 de agosto de 2010

Uma tarde com Glória Perez

Estive dia 04/08, na deliciosa Quarta as Quatro, encontros promovidos na Biblioteca Nacional com o nome Livros Vivos – Histórias Originais. A convidada do dia era Glória Perez e o público bastante heterogêneo vibrou com a simpatia e a disponibilidade da autora.
Os jovens alunos da Escola Professora Luíza Marinho, convidados da ocasião, souberam aproveitar bem a oportunidade e ouviram atentos as histórias de Glória, além de fazerem perguntas elogiadas pelo mediador, Vitor Youri, que  abriu o Encontro apresentando o Programa, que está no 5º ano e este ano faz parte das comemorações pelos 200 anos da Biblioteca Nacional. Ao apresentar a convidada disse que “O Brasil inteiro gosta de Glória Perez pelas causas que ela abraça”.
Articulada, Glória não fugiu de nenhuma pergunta e compartilhou com o público suas idéias, convicções e o seu processo criativo.
O tema do merchandising social, marca freqüente de suas telenovelas, surgiu várias vezes. Glória deixou claro que gosta de abrir espaço para dar voz a quem não tem. Foi assim desde Partido Alto a primeira que assinou (junto com Aguinaldo Silva), Como a novela se passava no bairro do Encantado, no Rio foi até a Associação de Moradores conversar com as pessoas e descobriu o grande problema do bairro: falta de transporte coletivo. Resolveu então colocar a personagem Sulamita constantemente reclamando dos pés inchados de tanto andar devido a falta de ônibus. Orgulhosa, Glória contou que esta campanha foi experimento e no final da novela a comunidade do Encantado finalmente ganhou um ônibus.
Fiel ao seu método de ouvir as pessoas atingidas pelos problemas que quer retratar, Glória conversou com Dependentes Químicos para abordar o tema do Dependente Químico em O CLONE e com pacientes de Hospitais Psiquiátricos para falar do Esquizofrênico em CAMINHO DAS ÍNDIAS. Ela contou que estes eram dois grupos que sempre quis abordar.
O legal é que Glória usa sua verve de pesquisadora e vai a campo. “Não quero teoria de ninguém, quero ouvir”. Quando entrevistou os dependentes químicos ouviu deles que o erro das campanhas anti-drogas era tratar a droga como uma coisa ruim, pois só quem já está no fundo do poço sabe disso. Para quem está começando, a droga é boa. Glória quis então mostrar a trajetória do dependente desde o início através da personagem Mel, uma jovem que no inicio encontra prazer na droga e aos poucos vai tendo sua vida arruinada por elas. Para fazer esta campanha, Glória contou que precisou falar com autoridades e no inicio chegou a receber criticas de que estaria fazendo apologia ao uso das drogas, mas, quem viu a novela até o fim viu como Mel terminou, envolvida num pesadelo.A mensagem que Glória quis passar foi a que ouviu dos próprios dependentes: “Nós não somos mau-carateres, a droga nos tira o caráter”.

Já em Caminho das Índias, a personagem Ivone nasceu a partir da reivindicação dos pacientes psiquiátricos com quem a autora conversou. A maior queixa que tinham era o fato da sociedade achar que são seres capazes de tudo a qualquer hora. Glória quis mostrar então que não há nada mais diferente do que o psicopata – esse sim um ser sem culpa e capaz de tudo – e o louco, afinal “enquanto o primeiro não tem emoção, o segundo se afoga na emoção". Para ela,o resultado da campanha foi positivo. Muitos psicanalistas e profissionais de saúde lhe contaram que a partir da novela os pais começaram a admitir a doença de seus filhos, apesar de toda dor que a esquizofrenia acarreta para família. Muitas mães camuflam a doença porque é muito difícil admiti-la, só que enquanto houver negação é impossível tratar a esquizofrenia e quanto antes o tratamento tiver inicio melhor é.
Questionada sobre o porque ter escolhido o povo mulçumano para ser retratado em O Clone, ela contou que seu ponto de partida foi o desejo de abordar a clonagem humana. Achou que seria interessante confrontar a idéia do clone, que é um desafio a idéia de Deus com a cultura mulçumana, que é a mais submissa à Deus.
Glória tem paixão pela diferença, por isto gosta de abordar culturas diferentes da nossa. Ela acha ainda que temos que situar as coisas no tempo que acontecem. Não dá para fazer, por exemplo, uma novela de época em que todos os personagens se vistam de maneira igual. Uma época não é hegemônica, um tempo é o resultado do entrelaçamento de vários tempos. Ela fez a platéia rir quando contou que às vezes fica imaginando arqueólogos encontrando daqui a milhares de anos uma roupa do cantor Falcão e achando que nos século XXI todos se vestiam daquele jeito.
Glória também falou do trio Raj, Bahuan e Maya e contou como encaminhou a história. Para ela, toda novela tem que ter no mínimo um triângulo amoroso, Se for uma história só de dois, com o casal bem resolvido, não tem novela. Revelou que tinha dois encaminhamentos possíveis para a história dos indianos: Um seria contar uma história de amor proibido, uma história de Romeu e Julieta através de Bahuan e Maya, esta história que já vimos milhares de vezes. Mas a história que ela realmente queria era a história do amor construído, muito mais original e foi experimentando. Como a resposta do público foi positiva, optou por esse final.
Glória faz pesquisa antropológica para abordar seus temas. Ela mesma vai à casa das pessoas, conversa com elas, quer saber como pensam, como vivem. Depois, quando começa a escrever e não tem mais tempo, a sua pesquisadora assume o trabalho e a acompanha durante toda a trama. Em Caminhos utilizou muito uma frase que ouviu dos próprios indianos quando lhes perguntou como conseguiam se casar com alguém que nunca tinham visto antes: “Vocês casam com a água fervendo e com o tempo ela esfria. Nós casamos com a água fria e com o tempo ela ferve”.
Apesar de suas campanhas, Glória acredita que as novelas NÃO têm o poder de educar e acredita que esta idéia é perigosa. Deixou claro que o papel da educação é das instituições, como a família e a escola. A Novela não pode substituir a educação, pode apenas ajudar ao colocar um assunto em discussão, já que tem imenso poder de penetração. Existem até mesmo tribos indígenas, no Acre, que assistiram O Clone. Sensata, falou com firmeza que devemos cobrar certo, cobrar do governo e das instâncias competentes uma educação bacana e não ficar esperando que a mídia tenha esse papel.
Para ela, todos nós, independentemente da profissão, podemos e devemos intervir de forma positiva na sociedade e as campanhas são a forma que encontrou para isso. Glória sabe que o papel da novela é entreter e fazer sonhar e como isto é importante para os seres humanos, mas, acredita que todos podem usar o seu trabalho em benéficio do público. Ela não esconde o orgulho de ter ajudado a encontrar mais de 100 crianças desaparecidas a partir da campanha de “Explode Coração”, que considera a mais bem sucedida. Até hoje ela se lembra de Rosemary, a primeira mãe a encontrar o seu filho a partir da novela.
Como não podia deixar de ser, a dança também foi assunto. Toda novela de Glória tem uma gafieira, sua paixão confessa. Para ela a dança de salão propicia um contato, uma troca de energia entre as pessoas. Vítor, o mediador, aproveitou para fazer uma comparação interessante entre a dança de salão e a dança de discoteca, pois esta última seria uma alegoria do nosso mundo atual, mais individualizado.
Para os roteiristas, acredito que Glória deu uma ótima dica quando, diante da pergunta se prefere fazer o que o público quer ou surpreende-lo respondeu que O público gosta de ser surpreendido, mas, ele gosta de gostar da surpresa. O mais engraçado é que nesta hora ouvi do adolescente que estava sentado ao meu lado que era isto que faltava em Malhação. Fica aí a lição.
Outra dica preciosa: O novelista jamais deve escrever sobre suas próprias vivências, é preciso um certo distanciamento para escrever bem sobre algo. Para exemplificar, contou sobre uma atriz que mostrou um verso seu, escrito no auge da paixão, para o poetinha Vinicius de Moraes, que o rasgou em pedacinhos.
Sobre os atores, Glória diz gostar de trabalhar com aqueles que se entregam ao papel, que se deixam tomar pela emoção. Se o ator critica o personagem acaba não funcionando. Há atores, que são muito bons, mas fazem com que você veja o ator, ela gosta de atores que fazem o público esquecer quem eles são e ver somente o personagem.
Ela também falou dos problemas comuns para quem escreve novela, como dificuldades com elenco, produção, além de ter que contar com o impoderável, coisas que o autor tem que administrar e deu o seguinte exemplo: Quando Janete Clair escreveu Pecado Capital a idéia era que a mocinha Lucinha acabasse com Carlão, interpretado por Francisco Cuoco, o galã da época. Só que o público se apaixonou por Salviano Lisboa, o outro vértice do triângulo interpretado por Lima Duarte e não houve jeito: Salviano e Lucinha terminaram juntos. Ao fazer o remake, Glória achou que este seria o final, mas, os atores que interpretavam Lucinha e Salviano brigaram no meio da novela e se recusaram terminantemente a se beijar. Como fazer par romântico sem beijo?
Ela classifica que o corte do beijo gay em América como o único problema mais sério que teve em sua trajetória profissional. Haviam gravado a cena, que segundo ela, tinha ficado linda, com cara de filme dos anos 50 porque “se você quer mostrar uma relação gay na TV tem que ir pela via do afeto, do amor, não dá para mostrar nada de tesão porque isto assusta o público”(sic).
Falou ainda sobre preconceitos e sobre as dificuldades enfrentadas pelas primeiras gerações que vivem determinados fatos históricos. Citou o caso dos bebês de aluguel, que trouxeram uma nova realidade, já que não existe nenhum código para maternidade, anteriormente era apenas uma evidência. E aí vêm essas mulheres e subvertem esta evidência: a que dá óvulo tem que aprender a ser mãe e a que carrega o filho que a mãe é outra mulher.
Foi isso também que a levou a escrever o final do clone Léo, sozinho caminhando para algum lugar que não sabemos onde vai dar. Glória também não sabe para onde o clone iria. Não se sabe onde isso poderia parar. Vivemos numa cultura onde se busca a identidade o tempo todo e o clone não tem uma identidade formada, é a cópia de alguém.
Já sobre preconceitos disse que a dificuldade é que você só enxerga o preconceito e não vê a pessoa que está por trás. Uma coisa é a idéia predominante do grupo e a outra que todo mundo vê aquilo daquele jeito.
Saí da Biblioteca Nacional, feliz e realizada, certa de que aprendi com Glória preciosas lições, desde aquelas ligadas a dramaturgia até as lições de cidadania e respeito ao próximo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

LANÇAMENTO DO LIVRO TEATRO E PSICANÁLISE NO DIA 12/08

Espero todos no lançamento do meu livro  Teatro e Psicanálise, que acontecerá no próximo dia 12 às 19hs na Livraria Saraiva do Botafogo Praia Shopping.

sábado, 31 de julho de 2010

Lançamento do livro Humor em Vermelho

Para quem gosta de se divertir com uma boa leitura, no dia 04 de agosto, próxima quarta-feira, estará sendo lançado na Livraria da Travessa, no Shopping Leblon do Rio de Janeiro, o  livro HUMOR EM VERMELHO que reúne textos bem-humorados de diversos escritores conhecidos. Vale a dica!

sábado, 12 de junho de 2010

Cartas para meu amor

Terça-feira passada tive a oportunidade de assistir a Pré-estreia de "Cartas para Julieta", que estreou, de fato ontem nos cinemas do Rio de Janeiro e recomendo. O filme é repleto de clichês e o desfecho bastante previsível. Cabe a pergunta então: Por que recomendo?
Vou responder: Porque é uma delícia, um daqueles filmes feitos simplesmente para entreter sem qualquer compromisso, de preferência ao lado do seu amor.  Quer coisa melhor do que esquecer da vida e dos problemas por algumas horas e se deixar levar por uma história leve e divertida? Melhor ainda, por uma história de amor?
O Amor, por mais profundo que seja, também tem que ter leveza, precisamos nos divertir com o outro, rir das bobagens que falamos, fazer cócegas, cafuné, abraçar sem querer largar. É claro que há momentos de seriedade, que vão desde aquelas brigas que nos fazem pensar que acabou até o "Eu te amo", dito olho no olho. Mas, sem espaço para poesia não dá. Não dá para ser sempre sério e sisudo. Um amor que é só sisudo machuca como uma farpa no dedo, aquela dorzinha chata que só passa depois que arrancamos a farpa de lá.
Cartas para Julieta fala do amor eterno, do amor que marca. A história começa quando a mocinha, Sophie, viaja com o noivo para Verona, terra de Romeu e Julieta e ao visitar a Casa de Julieta - ponto turístico local - descobre que mulheres do mundo inteiro deixam cartas para heroína de Shakespeare, contando suas histórias de amor e, por vezes, pedindo-lhe conselhos. Para respondê-las Julieta conta com suas secretárias. Ao juntar-se à estas, Sophie encontra uma carta perdida a 50 anos e a partir daí seu destino começa a mudar. Simples assim. E muito bom para se assistir no dia dos namorados.
Melhor ainda, se fizermos como as mulheres do filme e escrevermos uma carta, não para Julieta, mas, para nossos namorados ou namoradas, uma linda carta de amor para a pessoa que está ao nosso lado. Pode ser datada de 12 de junho, de 14 de fevereiro - o dia dos namorados americanos - ou estar com a data de amanhã, de depois de amanhã... tanto faz. O que importa não é o dia exato, mas o ato de carinho, o ato de dizer TE AMO. Todo mundo gosta de ser cuidado, lembrado e amado. Portanto, como diz a música dos Paralamas do Sucesso e como nos mostra o filme:
CUIDE BEM DO SEU AMOR/ SEJA QUEM FOR

sábado, 8 de maio de 2010

MÃES: QUANTO EXAGERO!!!

 Uma homenagem à minha e à todas as mães

Quando criança adorava altura. Morava numa casa alta onde havia um quintal que dava para a rua e um terraço. Havia também um balanço, desses que se tem nas escolas. Gostava de me pendurar na grade, lá no alto, para “olhar as modas”, como se dizia naquela época. Gostava também de me pendurar no balanço para brincar de trapezista. Era tão bom me sentir lá no alto! Ah, como adorava ficar no muro do terraço, sem grade de proteção admirando aquela altura incrível! Não dava para entender o desespero de minha mãe e de minha avó, chegando de mansinho, tentando me tirar daquele lugar na qual eu não via o menor risco, tudo tão calculado nos meus sete anos! Que gente mais exagerada!


A adolescência chegou e para mim tudo parecia tranqüilo. Quanto exagero!! – pensei – ao ver minha mãe acordada em plena madrugada, com o coração aos saltos, esperando por mim e minhas irmãs, que acabávamos de voltar animadíssimas de um show.  Era uma filha legal, não dava trabalho aos meus pais, minhas irmãs também não. Seguíamos direitinho as recomendações (exageradas) dela: “Nunca aceite doces ou presentes de estranhos!”/ “Nunca largue um copo sozinho e volte a beber nele!”/ Nunca vá para um lugar ermo com alguém que não conhece/ Jamais bata no rosto de uma pessoa, mas, se alguém faltar o respeito com você se imponha e ser for precise dê-lhe um chute nas canelas.

Enfim, filhas tão boas... Para quê aquelas olheiras de preocupação?! Só porque havíamos decidido esticar um pouco e continuar dançando, aproveitando a festa! Que exagero nos dar uma bronca só por causa disso! Não dava mesmo para entender!

Depois fui crescendo, virei adulta – pelo menos assim pensei ao completar dezoito anos – e tirei minha tão desejada carteira de habilitação. Ganhei meu carrinho, mas não saía muito, pelo menos desacompanhada. Um belo dia, sozinha em casa, precisei ir ao dentista e não tive dúvidas: peguei meu corsa e segui em frente. Foi um Deus nos acuda! Mamãe soube pela empregada que eu havia saído e tome bronca pelo telefone: Como você sai de carro, sozinha, sem dizer aonde vai? Pegou a carteira outro dia!

Quanto exagero! Será que existe mãe mais exagerada que a minha?! - perguntei pros meus botões.

Chegou a época de entrar para faculdade. E depois de cinco anos a formatura. Quanta felicidade em pegar o meu diploma. E mamãe lá, ao lado de vovó, exagerada também na alegria de ver a filha formada. Novas lágrimas, emoção e exagero anos depois no meu casamento.

Exagero na preocupação, exagero na alegria, nas lágrimas de tristeza pelas minhas derrotas ou de alegrias pelas minhas vitórias.

Mas... será que minha mãe é mesmo mais exagerada que as outras?

O fato é que cresci, virei mulher e hoje penso em como será com meus filhos. E quando penso nisso me vejo ensinando à eles não aceitar doces de estranhos,  não atravessar a rua sem olhar dos dois lados,  não beber do copo de ninguém ... aqueles mesmos conselhos exagerados de mamãe. Fico imaginando o que vou sentir se com dezesseis, dezessete, dezoito anos que seja chegarem de madrugada em casa, sem dar noticias em tempos tão violentos e me dá um aperto enorme no coração só de imaginar. Imagino meus pimpolhos brincando de equilibristas, se pendurando em grades sem rede de proteção e suo frio só de imaginar. É... talvez eu não fosse uma filha tão legal e tão tranqüila assim, no fim das contas. Eu que achava que nunca dei trabalho, que minha mãe era tão EXAGERADA... só agora percebo quantas preocupações e cabelos brancos lhe causei. Só agora percebo que as mães são assim, todas EXAGERADAS... um EXAGERO DE AMOR que faz com que os filhos, por vezes, se irritem, mas que os faz ter certeza de que elas sempre estarão lá, de braços exageradamente abertos quando precisarem deles para se aninharem e se apoiarem. Que bom que – exageradas ou não – as mães existem!

FELIZ DIA DAS MÃES, MINHA MÃE!

FELIZ DIA DAS MÃES PARA TODAS AS MÃES!!!

domingo, 2 de maio de 2010

O Clube das Asneiras é a maior diversão!

Eu, Andréa Cordoniz e Fabricio Janssen na Livraria da Travessa


Mês passado estive no lançamento do livro “O Clube das Asneiras”, de Andréa Cordoniz, psicóloga e escritora talentosa, autora também de “Exorcize sua alma gorda”.
Não resisti e comecei a ler o livro – e consequentemente a dar boas risadas - já na fila, enquanto aguardava o meu autógrafo.
Depois do meu suado autográfo – pois Andréa disputadíssima não parava quieta - continuei me divertindo com as pérolas tão cuidadosamente garimpadas por ela e subdivididas em tópicos tais como “Asneiras Políticas”, “Asneiras Artísticas”, “Asneiras Esportivas” dentre outras.
O livro é uma delícia, não dá para desgrudar até a última página. Além disso prova por A+B que ninguém – seja anônimo ou famoso - está livre de fazer e dizer “asneiras”, afinal errar é humano. Ainda bem! Já pensaram como o mundo seria chato se todos acertassem o tempo todo em tudo?
Com uma gargalhada garantida a cada página, “O Clube das asneiras” prova também que rir é o melhor remédio para qualquer estresse. Em meio a correria do dia a dia e a tantas atribuições e responsabilidades, não há nada melhor do que parar um pouco e nos permitirmos simplesmente um momento de pura diversão. Valeu, Andréa! Vale à pena conhecer esse clube!


domingo, 18 de abril de 2010

Pequena reflexão sobre TV e programas de entrevistas

Na chamada do Fantástico de hoje à noite, estão anunciando entrevista com o "assassino de Luziânia", que matou seis jovens na cidadezinha goiana. Fico me perguntando o que um assassino pedófilo pode ter a dizer que seja de interesse da população. Mas, na verdade, o que me intriga é outra questão.
A alguns dias atrás choveram criticas ao programa do Ratinho, por conta de uma entrevista que realizou com um assassino – não convém dizer o nome. Fiquei bastante espantada quando vi a chamada e não tive coragem de assistir, pois tal criatura me causa repúdio e não ia ser eu a lhe dar ibope.
Confesso que achei de extremo mau gosto, pois, imagino o quanto deva ser cruel para a mãe da vítima e as pessoas que a amavam ter que se defrontar com a triste realidade: o monstro que tirou deles uma pessoa querida, livre, leve e solto dando entrevistas na televisão, tal e qual um astro, quando deveria estar atrás das grades pagando pelo seu crime.
Logo depois do programa, surgiram várias discussões sobre o limite da imprensa, da mídia, até onde se pode ir. Não sei se o objetivo de Ratinho & Companhia era levantar polêmica, mas se era, conseguiram. Porém, o que fica martelando na minha cabeça é o seguinte: Qual a diferença entre o dito-cujo entrevistado por Ratinho e o que será entrevistado pelo Fantástico? E entre estes e os Nardoni? (ao que me lembro o casal infanticida também foi entrevistado na televisão). Será que é pelo fato de um estar preso e o outro livre? Ou pelo fato da entrevista de hoje ser numa emissora considerada mais séria?
Não consigo entender qual a diferença. Não sou critica de TV e muito menos censora. Gosto do Fantástico; há sempre várias matérias interessantes e algumas histórias são um prato cheio para inspirar um roteirista. Também não me sinto muito a vontade para fazer criticas, já que não vi as entrevistas. Pode ser que o que mude seja a abordagem, não sei. Mas penso que devem machucar aos familiares do mesmo jeito.

sábado, 10 de abril de 2010

Cama de Gato vai deixar saudades

Desde criança sempre amei novelas, vibrava e torcia com as reviravoltas, as dores e os amores dos personagens. Aquelas criaturas entravam na minha casa sem cerimônia e eu acabava gostando delas, como de amigos queridos que viessem sempre me visitar de segunda a sexta-feira no mesmo horário.
Naquela época havia o famigerado “Recomendado para maiores de... " e minha mãe seguia direitinho esta recomendação. Desta forma, eu acabava vendo apenas os programas considerados apropriados para minha faixa etária(sei que hoje ainda existe classificação indicativa, mas conto nos dedos os pais que a levam a sério).
Para muita gente isto pode parecer apologia a censura, mas não penso assim. Acredito que cada época da vida tem sua beleza e tudo tem o seu tempo. Sou grata a minha mãe, pois vivi minha infância e adolescência em sua plenitude, sem pular etapas. Minhas novas emoções e descobertas aconteceram no devido tempo, quando corpo, mente e coração já podiam compreender – ou pelo menos apreender – o mundo que me rodeava, fosse o mundo real, fosse o da ficção. Além disso, tenho doces lembranças daquele tempo, quando movida pela curiosidade, tentava espionar atrás da porta quem era a tal da Dona Beija e porque ela era proibida para mim.
Portanto, ao contrário do que acontece com as crianças de hoje, os programas que marcaram a minha infância e o inicio da adolescência foram aqueles considerados “censura livre”. Quando se fala em novelas, isto significa dizer que foram os folhetins das dezoito horas (e também o das dezenove, vá lá) que me fizeram descobrir desde cedo que eu adorava uma boa história, contada em capítulos: Livre para voar, Sinhá Moça, O sexo dos anjos, A Gata Comeu, Vereda Tropical, Cambalacho, todas inesquecíveis para mim.
O tempo passou, cresci, estudei, me formei e aí veio a vida adulta: trabalhar, ganhar dinheiro, dirigir, enfrentar o trânsito do Rio de Janeiro, casar, cuidar do lar, fazer o jantar... afazeres normais, de gente grande. Continuei adorando novelas, mas, já não havia tempo para elas com tanta coisa mais importante para se fazer. No mundo real onde o tempo urge como perder preciosos minutos sentada na frente de uma TV para mergulhar em um mundo de fantasia?
Uma novela tem que prender a nossa atenção por capítulos e mais capítulos, temos que ter interesse pelo seu desenrolar, pelo que vai acontecer a seguir, pois só assim vale a pena parar para assisti-la. Por pura falta de tempo, passei a acompanhar apenas alguns capítulos da novela das 20 horas, quando podia, mas, somente com Caminho das Índias voltei a acompanhar fielmente uma novela e torcer de verdade pelo destino de seus personagens. Vez ou outra dava uma espiada na novela das dezenove horas, mas a das dezoito era impossível. Até que resolvi dar uma espiada em Cama de Gato um dia e algo chamou minha atenção, resolvi ver outro dia e outro e pronto... Quando vi estava fisgada, completamente apaixonada pela novela de Duca Rachid e Thelma Guedes!
Cama de Gato me encantou do começo a fim. É claro que, como em toda novela, alguns finais pareceram forçados (Alcino só descobriu que amava Mary no último capítulo? E o amor dele por Rose? Desapareceu?). Ainda assim, no âmbito geral, foi um belo final, coerente com o desenrolar de uma trama que teve ação, suspense, romance e personagens apaixonantes, todos os ingredientes necessários para prender a atenção do telespectador.




Quando destacamos o trabalho de alguém dentro de uma equipe – como é o caso de uma novela – sempre corremos o risco de sermos injustos, mas ainda assim quero dar meus parabéns a algumas pessoas em especial. Primeiramente às autoras e aos colaboradores, pois sei que não é fácil segurar a onda de prender a atenção do público por meses e meses, ainda mais num horário tão ingrato.
Dito isto, passemos ao elenco. Li em algum lugar de que nada adianta o autor escrever o melhor texto do mundo, se o ator não souber falá-lo e concordo plenamente. Cama de Gato tinha personagens que poderiam cair no maniqueísmo e ser uma armadilha para qualquer ator, mas graças ao talento dos seus interpretes escaparam deste destino.
Paola Oliveira defendeu com garra uma vilã que não faria feio em nenhuma novela das 21 horas. Verônica foi a grande responsável pela maioria das “camas de gato” que deram título a história e conseguiu a proeza de dar veracidade ao arrependimento de sua personagem no último capítulo, mesmo que esta tenha se comportado como uma psicopata durante toda a trama.
Porém, acredito que no século XXI ainda mais difícil do que interpretar o vilão é interpretar o mocinho, pois muitas vezes o bonzinho é confundido com o chato. Mas Rosenilde, a protagonista de Cama de Gato passou longe deste estigma. Pelo contrário, era muito fácil se identificar com ela, uma mulher do povo, alegre e guerreira. Rose não contou uma única mentira a novela inteira e manteve o seu perfil de mulher integra e honesta até o fim. Camila Pitanga abraçou com louvor a tarefa de dar vida a esta mulher e conseguiu passar a verdade da personagem também para os telespectadores. Camila – linda e carismática, como sempre - nos fez acreditar e torcer pela valente Rose, que em nada lembrava a também inesquecível Bebel, de Paraíso Tropical ( e ainda nos convenceu de que era mesmo mãe de quatro filhos, dois deles bem crescidos).
Para completar, merece destaque o trabalho de Carmo Dalla Vecchia. Se não é fácil segurar uma mocinha, que dirá um mocinho como Alcino, condenado desde o primeiro capítulo a morte por conta de uma doença terminal? Qualquer descuido e ele poderia se tornar chato e piegas. Mas Carmo conseguiu criar um personagem adorável e foi responsável por alguns dos momentos mais emocionantes da trama. Está de parabéns.
Com um texto bem escrito – daqueles que primam pela emoção, sem cair no dramalhão – Cama de Gato ainda teve o mérito de dar oportunidade para que tanto veteranos quanto estreantes brilhassem em igual proporção.
Como não se apaixonar pelos velhinhos da Casa de Repouso ou pelos adolescentes do Colégio São Jorge? Que presente ver Suely Franco e Pedro Paulo Rangel, Berta Loran e Luiz Gustavo e os demais em ação! (isto sem contar a presença de outros veteranos que andavam fazendo falta nas telas, como Tony Tornado e Ilva Niño, Norma Blum, etc). Que presente conhecer Raquel Fuína, Heslander Vieira, Ronny Kriwat, Guta Gonçalves, Bianca Salgueiro, Marcela Ricca e outros jovens atores que defenderam com garra seus papéis e que espero ainda ver brilhar em trabalhos futuros.
Enfim, Cama de Gato já entrou para minha galeria de novelas inesquecíveis. Vai deixar saudade.


Ps: Marcos Palmeira que me perdoe, mas, pelo menos a mim, mesmo sendo um personagem aparentemente mais complexo, Gustavo Brandão não conseguiu tocar tanto quanto Rose, Alcino e Verônica. Até torci para que Gustavo e Rose terminassem juntos, mas, muito mais por Rose e pela coerência da história do que propriamente por causa dele.

domingo, 4 de abril de 2010

Tempo de Renovação

Hoje é Domingo de Páscoa e resolvi ir à Igreja. Não vou sempre, mas, gosto de sentir a energia das pessoas unidas no mesmo objetivo: louvarem à Deus e sentirem-se um pouco mais próximas do Céu,de Jesus Cristo, de Nossa Senhora.
Independentemente de religião, acredito que ter uma fé completa o ser humano, nos torna mais fortes e mais felizes.
Sei que tem gente que não tem paciência com o que chama de "sermão", mas, quanto à mim, o momento que mais gosto nestas celebrações é aquele que o padre, pastor, rabino, enfim, o celebrante, desprende-se do que está escrito no papel e nos brinda com suas próprias palavras. E hoje, o Padre disse uma coisa maravilhosa: Que a Ressureição de Jesus serve como exemplo de Renovação para todos nós.
Fiquei pensando nestas palavras. Às vezes nos preendemos tanto a tudo que é preestabelecido, que falta coragem para renovar nossos estoques: de amor, de conquistas, de oportunidades. Não falo em ser volúvel, não é isto. Falo da Renovação diária do amor, da fé, da própria coragem, dos sentimentos que nos movem neste mundo.
É por isto que quero desejar à todos uma Ótima Páscoa, com votos que estes momentos de Renovação perdurem por toda vida, afinal, esta é a graça de viver.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Uma pequena homenagem do Folhetimblog a todas as mulheres: As da ficção e as da vida real

Para comemorar o Dia Internacional da Mulher à maneira do Folhetimblog, resolvi lembrar de algumas heroínas da ficção, mulheres que embora não sejam de carne e osso nos fizeram torcer por elas em diferentes épocas. Como se tornou praxe elogiar as vilãs, preferi eleger as mocinhas, aquelas de quem eu gostaria de ser amiga se existissem de verdade. Está certo que algumas não são tão certinhas, mas poderiam perfeitamente ser aquela vizinha ou colega de trabalho que nos diverte com suas peripécias.
Aviso: Não há nenhum critério nesta seleção, a não ser o de terem marcado minha vida de alguma maneira. Lá vai:

Jô Penteado (A Gata Comeu) – Sonâmbula, encrenqueira, metida e muito divertida. Foi uma das primeiras mulheres da ficção que me manteve grudada na frente da TV. Eu era pequenininha, mas adorava acompanhar as aventuras de Jô. Entre outras cenas, foi inesquecível a sequência em que prega uma peça no professor – simultaneamente seu amor e desafeto – convidando-o para uma festa Black Tie como se fosse uma festa na ilha e faz ele e a noiva pagarem um tremendo mico.

Catarina (O Cravo e a Rosa) – Uma feminista tinhosa em plena década de 20, colocava todos os pretendentes para correr graças ao seu gênio terrível. Mas o público não tinha a menor vontade de correr dela, assim como o teimoso fazendeiro Petruchio – que no ínicio só quer o dote da moça para salvar sua fazenda, mas depois acaba se apaixonando por seu “favo de mel”.

Tieta do Agreste – Eta mulher porreta! Tieta voltou a sua terra natal Santana do Agreste para se vingar dos que a humilharam no passado e nos fez torcer por ela, mesmo não sendo nenhum modelo de virtude. Sem contar, que dava título a uma novela cheia de personagens femininas inesquecíveis: Leonora, Cinira e Amorzinho, Carmosina, Dona Milu, Perpétua, Carol... um time de primeira!

Imaculada (Tieta do Agreste) – Merece destaque porque é uma de minhas personagens preferidas da ficção. Apaixonada pelo seminarista Ricardo, Imaculada passou boa parte da novela driblando as investidas do Coronel Artur da Tapitanga – de quem era uma das “rolinhas” – para ao final se entregar imaculada ao seu príncipe.

Maria do Carmo – A senhora do Destino era outra nordestina arretada, que fez muito sucesso com seu jeito firme e decidido, lutava pelos seus objetivos sem perder o caráter, mas sem jamais levar desaforo para casa.

Juma Marruá - A mulher que virava onça em "Pantanal" conquistou o filho do coronel José Leôncio e milhares de pessoas no país inteiro e chegou a ameçar os indices de audiência da Rede Globo

Maya (Caminho das Índias) Esta é bem recente, mas, já entrou na galeria de mulheres inesquecíveis da ficção. Linda e atordoada por um segredo, despertou polêmicas. Uns a achavam mentirosa, outros compreendiam as razões da indiana para esconder a verdadeira identidade do pai de seu filho. Mas é inegável a química de Maya com o marido Raj e o carisma da atriz que lhe deu vida, Juliana Paes

Rosenilde (Cama de Gato) –Além de linda, é integra leal aos amigos e aos seus sentimentos, mãe dedicada, amante fiel e completamente sincera. Rose é quase uma mocinha de novela de antigamente, daquelas que podem se tornar maniqueístas e virarem “chatas de galocha”. Só que ela passa muito longe deste clichê... É forte, decidida, batalhadora e nunca perde muito tempo chorando pelo leite derramado. Uma heroína adorável, daquelas que a gente adoraria que existisse de verdade.

Mercedes (Filme Divã) – Esta não conheci numa novela, mas num filme. Mercedes é uma mulher absolutamente comum e por isto mesmo é absolutamente impossível não se identificar com ela em sua luta para conquistar seus sonhos e ser feliz.

Esta é apenas uma pequena amostra com algumas de minhas personagens preferidas, é claro que existem muitas outras mulheres interessantes na ficção, mas o mais importante é dizer o seguinte:

PARABÉNS AS MULHERES DE CARNE E OSSO, AS HEROÍNAS DA VIDA REAL, AQUELAS QUE SE INSPIRAM E SE COMOVEM COM A FICÇÃO, MAS QUE COM SUAs LUTAS E CONQUISTAS TAMBÉM A INSPIRAM E A SUPERAM.
PARABÉNS A TODAS NÓS!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Os mais sem-noção da ficção

Inspirada nas listas que circulam na Internet e nas coisas inacreditáveis que se vê e ouve por aí resolvi listar os dez personagens mais “sem noção” da ficção, divididos nas categorias “Da hora”, “Recentes” e “Das antigas”. Confesso que algumas dessas malas, apesar de sem noção são até adoráveis, mas há também aquelas que ninguém merece. Escolham a sua preferida e embarquem nesta viagem pelo mundo das novelas.Ah, e se quiserem acrescentar alguma mala esquecida, fiquem à vontade.


DA HORA


Gustavo Brandão (Cama de Gato) – O cara só agora descobriu as armações da ex-mulher, apesar de ter sido avisado por praticamente todos os personagens que a ex era uma “víbora”.Preferiu brigar com o irmão, o melhor amigo, os pais, a namorada e mais meio mundo. O pior é achar que Alcino – que está morrendo - tentou matá-lo porque tinha inveja e ia ficar com tudo que era dele.

Izabel (Viver a vida) – Sua falta de noção está no fato de falar o que quer, sem o menor pudor, mesmo que os outros não estejam nem um pouco dispostos a ouvir. Mas, sejamos francos: Izabel costuma dizer a verdade e nós bem que nos divertimos com o seu jeitão.

Dora (Viver a Vida) – O oposto de Izabel, não é nada sincera. Mesmo tendo descoberto que o amante de Búzios é marido de sua patroa,não abre mão do emprego de secretária e de permancer na casa dela. E ainda trai Helena bem debaixo do nariz dela.


RECENTES


César e Ilana (Caminho das Índias) – estes pelo menos eram sem-noção divertidos. Almas gêmeas, César e Ilana batiam palma para todas as atrocidades cometidas pelo filho pitboy e diziam as maiores barbaridades com toda naturalidade do mundo.


Raul Cadore (Caminho das Índias) – Merece medalha de ouro na categoria sem noção. O cara roubou o irmão, abandonou mulher e filha, se fingiu de morto e foi para Dubai, ficar tomando drinks na piscina com a amante. Ah, e deu a chave do cofre de sua casa para ela, que claro, muito merecidamente roubou tudo que ele tinha. Acabou algemado pela própria numa cama de hotel numa das maiores pagações de mico da história televisiva


Irene (A Favorita) – Esta é do time do Gustavo. Brandão. Mais um exemplo de personagem que não consegue ver nada além do que tem diante dos olhos, fazendo jus ao apelido de “Anta”, tão gentilmente dado por sua querida psicopata Flora.


DAS ANTIGAS


Carmosina (Tieta) – A fofoqueira solteirona se aproveitava da sua condição de funcionária do correio e no bico da chaleira violava tudo que era carta que lhe chegasse as mãos.Mais sem noção impossível

Heloísa (Mulheres Apaixonadas) – A irmã de Helena sufocava o marido bonitão com seu ciúme excessivo e cometeu os mais variados desatinos para que ele não fosse de mais ninguém.

Sandrinha (Torre de Babel) – Explodiu um shopping!!!

Manon (Roque Santeiro) – essa se apaixonou por um lobisomem. Precisa dizer mais?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

UM CASAMENTO, UM FUNERAL E UMA GALINHA

Acreditem se quiser, mas, a história abaixo é baseada em fatos reais. Divido-a agora com vocês.

Sábado, seis horas da manhã: acordo assustada antes mesmo do galo cantar (ou pelo menos assim seria, se um galo houvesse no meu apartamento). Preciso fazer tudo às pressas: escovar os dentes, pentear o cabelo, fazer a mala.
A parte da família que mora na cidade grande alugou uma Van e dentro de alguns minutos estaremos todos partindo para o interior a fim de prestigiar o matrimônio de um primo querido.
A van chega e desço ainda penteando os cabelos. Sou a última a entrar e cumprimento os que já estão alojados. Mas é preciso arrumar lugar para minhas roupas, inclusive para o vestido de festa. Para não fugir à regra feminina, levo uma mala, uma valise, um cabide com a roupa da festa e já arrependida pergunto a mim mesma o que será que eu faria se fosse ficar uma semana ao invés de um dia. Empurra daqui, ajeita dali, ajuda de cá e com algum custo a família consegue acomodar minhas bugigangas (embora certamente estivessem com vontade de jogá-las pela janela, juntamente com a dona).
Todos devidamente alocados seguimos viagem. Alguns dormem, outros aproveitam para colocar o papo em dia, até que no meio da estrada o telefone de alguém toca e chega a fatídica noticia: Zé Conchinha morreu!!
Tremendo rebuliço. O falecido morava na roça há muitos anos e era tremendamente querido na região, um dessas figuras folclóricas que fazem a graça das cidades do interior. Imediatamente me passam pela cabeça dois pensamentos. Primeiro: O morto não é da família dos noivos, não vai atrapalhar o casamento. Segundo: A vantagem dele ter morrido hoje é que vai dar pra economizar tempo e transporte.
E assim, o que era uma viagem para prestigiar um enlace matrimonial s desdobra também em uma viagem para acompanhar um enterro. Quando vejo, estamos discutindo com que roupa iremos ao enterro, afinal havíamos nos preparado para um casamento. Certamente não pegaria bem aparecermos no cemitério com nossos longos e smokings. Fui salva por uma tia que, havia levado umas roupas extras e se prontificou a me emprestar uma. Prevenida, ela já havia contado com a possibilidade de Zé passar desta para melhor na ocasião de nossa visita, posto que ele se encontrava naquele estado de “morre- não –morre”.
Após horas de viagens, alguém se deu conta de que era chegada a hora de nos arrumarmos para a festa. Havia só um probleminha: Onde?
A família dos noivos já havia ido para igreja e nos outros locais não havia espaço adequado. Por falta de opção e correr do relógio, sobrou a casa da família do falecido.
Mesmo arrasado, o irmão do finado nos recebeu muito bem, como é costume das pessoas simples da roça. Só que não deu nem tempo dele agradecer os pêsames e já estávamos pedindo se podíamos nos arrumar ali mesmo para festa. O coitado do homem não teve muito que fazer, quando viu já estávamos agilizando o nosso lado. Mas ele ainda conseguiu dizer que além do banheiro social, também havia um em seu quarto que poderíamos usar.

Foi um pouco constrangedor ir tirando o vestido e a maquiagem e toda a parafernália da mala, ao mesmo tempo em que manifestava os meus sentimentos pela perda, mas o que se há de fazer... são as contingências da vida (ou da morte, sei lá). Porém o mais insólito ainda estava por vir... Ia eu entrando no banheiro, quando da soleira avisto uma galinha!! A mesma estava a alguns passos de distância, mas o suficiente para que eu levasse um susto. E diante do meu grito, ainda tive que ouvir de alguém : “Antes de entrar no banho dá uma olhada se não tem galinha no boxe”. Por um momento, achei que estavam brincando e contive o riso apenas em solidariedade ao luto dos donos da casa. Mas logo percebi que ninguém ali estava pra brincadeira. Acho que na roça o direito constitucional de ir e vir é assegurado também as galinhas. Tal como acontece com cachorrinhos de madame nas cidades, as galináceas recebem tratamento vip. Nada de restringi-las somente ao galinheiro. Sendo assim, podemos perfeitamente encontrar uma galinha placidamente ciscando aos pés do sofá, beliscando algo na cozinha ou alojada em cima de uma cama, sem que ninguém a incomode.
Mas, infelizmente como “cria da cidade grande” que sou não estou acostumada com tanto natureza. E, assim, quando dei por mim estava quase paranóica, vasculhando cada canto do banheiro a fim de garantir que meu banho não seria interrompido por nenhuma penosa inconveniente.
Findo o banho, foi preciso verificar se não havia nenhuma pena no vestido e seguir com os preparativos. Mais alguns minutos, e todos estavam prontos. E assim elegantes e, graças a Deus, livres de pena seguimos para a festa que nos aguardava. Antes que pensem que eu e minha família somos insensíveis cabe esclarecer uma questão. Quando digo sem pena, é no sentido literal, pois é claro, sentíamos compaixão pela família que nos acolheu mesmo numa hora tão difícil (e emprestou banheiro, espelho e tudo mais). Embarcarmos de volta na van, e ouvimos os votos de boa festa enquanto prometíamos que iríamos ao enterro no dia seguinte.
Ocorre que o casamento demorou mais do que o previsto. A noiva, para não fugir a tradição, atrasou. E na festa, era preciso colocar o papo em dia com aquela parte da família que só se vê nas férias, em casamento e em velórios. Sendo assim, quando vimos a hora já estava avançada e ainda era preciso resolver um pequeno problema: o local para dormir. Cogitou-se dormir na van, até que um tio bondoso ofereceu sua casa próxima ao local das núpcias e, exaustos, aceitamos de bom grado.
No fim das contas deu tudo certo, exceto pelo fato que eu estava tão cansada que só deu tempo de colocar a roupa de dormir e desmaiar em cima da cama de alguém, desalojando o infeliz dono do quarto. Mas isto só percebi ao acordar no dia seguinte com um zum-zum-zum. Pensei que o barulho era porque estavam todos se arrumando para o enterro, mas me equivoquei. Estavam voltando!!! Dormi tanto que perdi a hora da despedida final! Mas, pelo menos, fui posta a par dos acontecimentos por aqueles que lá compareceram: Zé Conchinha foi enterrado muito dignamente, da maneira que sempre sonhou. Em uma das mãos, o pandeiro, velho companheiro das rodas de seresta que tanto gostava. E no caixão, ao invés de manto ou bandeira, repousava singela apenas uma pena. Era a última homenagem de Anastácia, sua galinha de estimação.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Mais estranho que a ficção

Assisti em dezembro passado a uma palestra do novelista Manoel Carlos e no meio da sua explanação ele citou uma frase da qual gosta muito e da qual não recorda o autor, algo mais ou menos assim "O problema da ficção é que ela tem que fazer sentido, a realidade não".
Na mesma hora me lembrei dos noticiários da TV e de muitas coisas que não fazem sentido:
uma criança que resiste e vive apesar das agulhas enfiadas no corpo por um padrasto cruel;
uma criança que cai na linha de uma estação de metrô, é atropelada pelo trem e sofre apenas escoriações leves;
A queda de uma viaduto numa avenida movimentada de São Paulo, sem vítimas fatais.
A demora de mais de uma semana para enterrar o corpo de um astro pop mundialmente famoso e a transformação de seu funeral em um grande evento;

E para recuar um pouco mais no tempo, o inacreditável esqueleto do que deveria ser a cidade da música, fincado bem no meio da Barra da Tijuca. Toda vez que passo pela finada - e gigantesca - obra, penso nos milhões mal aproveitados que foram empregados ali e fico imaginando seu futuro. Será que um dia será concluída? Ou será que daqui há 1.000 anos guias a apresentarão aos turistas da seguinte maneira:
- Aqui estão as ruínas da Cidade da música, aquela que foi sem nunca ter sido.
Meu amigo, menos otimista, acha que a obra vai servir de esconderijo para criminosos e virar um antro do mal. Espero que ele esteja errado. Mas como a realidade não faz mesmo o menor sentido...