sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Cena para Master Class

Segue a cena que enviei no inicio do ano para concorrer a uma vaga na Master Class do querido Aguinaldo Silva


CENA I. QUARTO DE TIETA. INTERIOR. DIA
Continuação imediata do capítulo anterior. Perpétua leva a mão ao peito, emite um grito agudo, e cai desmaiada no chão do quarto

Ricardo (apavorado e correndo ao encontro dela) – Mãeeeeeeee! Meu Deus, será que a gente matou ela, no susto?!

Tieta – Deixe disso, menino! Vaso ruim não quebra assim fácil.

Tieta se aproxima e verifica se Perpétua está respirando

Ricardo (aflito) – É minha mãe, Tieta!

Tieta: Por isso mesmo. Conheço a peça! (Pausa) Será que não ta fingindo?

Ricardo - O choque foi grande demais pra ela!

Tieta: - Depressa! Me ajuda a botar ela na cama e corre pra buscar ajuda.

Ricardo e Tieta colocam Perpétua na cama, com esforço e se vestem, apressados. Assim que terminam, Perpétua abre os olhos

Ricardo (indo de encontro à mãe) – Graças a Deus!

Perpétua (olhando desconfiada) – Quem é você?

Ricardo (atônito) – Teu filho! Teu Cardo!

Perpétua: Filho?! Eu tenho filho?!

Ricardo: - Fala assim comigo, não, minha mãe. Me perdoa!

Perpétua: - Do que tu ta falando, rapaz? _ e olhando para o quarto – Que lugar é esse, como eu vim parar aqui?!

Tieta – É a minha casa.

Perpétua (para Ricardo) – Essa aí, quem é?

Tieta: - Ta variando, mulher?

Ricardo (sem pensar): É Tieta, minha tia, sua irmã. Mãe, nem sei como explicar o que a senhora viu...

Perpétua (cortante) – Vi? Vi o quê?! Não to entendendo nada que esse menino ta falando...

Tieta: - Perpétua, faça-me o favor...

Perpétua: - Quem é Perpétua?

Tieta: Mas que é isso agora? Vai dizer que não sabe?!

Perpétua (aos prantos) – Pobre de mim!

Tieta (desconfiada) – Pois muito bem. VOCÊ é Perpétua! Eu sou Tieta, sua irmã. Cardo é meu sobrinho, seu filho. (Pausa) - Vocês vieram me dizer algo, de repente você teve um piripaque, caiu dura e nós te trouxemos pro meu quarto.

Ricardo olha para mãe e para tia, sem saber o que fazer, mas fica quieto

Perpétua: Não consigo lembrar de nada... nadica de nada! (Para Ricardo) E quer saber? Se você é mesmo meu filho, então me leva pra minha casa! Quero ir pra minha casa!

Ricardo (erguendo Perpétua) - Vamos, mãe. Vamos pra casa.

Perpétua (olhando para Cardo e Tieta, como quem tentar reconhecer alguém) - Como é triste depender da bondade de estranhos!

Tieta (com um sorriso, forçado, acenando para eles) - Tchau, Cardo, Tchau Perpétua. Melhoras!

Quando Cardo e Perpétua saem pela porta, Tieta despenca sentada na cama, com a cabeça entre as mãos, visivelmente sem saber o que pensar.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Talvez... Quem sabe?

Não sei se a lua está cheia ou minguante. Faz algum tempo que sequer me aproximo da janela. Tenho medo do que o mundo lá fora reserva para mim. Ouço, daqui mesmo, vez por outra, o barulho de um pássaro que teima em cantar bem debaixo da minha janela ou de um avião ensurdecedor, um destes pássaros-monstros da atualidade.
Vocês devem estar pensando que enlouqueci, que me tranquei dentro da minha depressão e resolvi querer morrer, aqui, quietinha, dentro do meu quarto, sem que o resto do mundo sequer tome conhecimento da minha existência. Ou talvez pensem ao contrário, que fui atacada por uma súbita sensatez e a verdade se abriu diante dos meus olhos, como uma cortina de teatro. Talvez pensem na violência que ronda a noite lá fora, no tédio, nos amores impossíveis... Amor, o que será isto? Creio que descobriram o motivo da minha tristeza. Não penso mais nas horas, não sei se é dia ou noite. De que me vale caminhar lá fora, olhar as estrelas, olhar a vida, se aqui dentro de mim não encontro mais sentido para nada? Se tudo é sempre negro desde que ele partiu?
Não sei porque escrevo isto. Talvez simplesmente porque nunca fui boa com palavras. Elas me somem, como que roubadas, cada vez que vejo alguém a quem gostaria de comunicar algo, o meu amor que fosse. Não emergem até a boca, mal atravessam as cordas vocais. Daí a necessidade de escrever. Quem sabe assim alguém possa compreender o que eu mesma não consigo? Quem sabe assim eu possa gritar para o mundo - um grito silencioso - tudo o que a boca cala? Eu posso enfim ter esperanças de me comunicar com alguém que está fora de mim, de me fazer entender ao longe, nas mais remotas montanhas... Ou quem sabe, bem perto, aqui mesmo, onde não tenho coragem de ir.
Talvez vocês achem estas palavras vazias. Certa vez ouvi dizer que tudo tinha que ter um fundo social, uma crônica para ser boa tem que passar uma mensagem política. Mas o que será social? Existirá mesmo isso? É uma palavra que não existe ou uma invenção? Uma invenção, talvez de uma criança travessa que não tinha mais o que fazer. Social? Tema? Crônica? Tudo isto é invenção do humano, é dar sentido ao que não tem sentido. Neste momento estou aqui, trancada dentro de mim mesma. Lá fora, tão perto e tão longe, há alguém protegido por paredes de pedra, vendo TV ou dormindo o que chamam o "sono dos justos” (quem sabe ainda exista algum justo); ou quem sabe esse alguém que nem sabe que eu existo estará suando em uma danceteria, a procura de um novo amor, de uma transa que seja, ou beijando uma boca que acaba de conhecer, num delírio sensual? Será isto o que chamam de social? Neste momento, estou aqui, e lá fora, sob a lua, alguém estende a mão a um estranho em busca de uma esmola, mas este não o vê. Há uma criança chorando de fome e outra de dor de dente. Estou aqui, no meu mundinho, não posso ouvi-las. Mas quem está lá fora também não as ouve. Será isto o que chamam de social? Talvez...quem sabe.
Existem milhares de pessoas lá fora. Nenhuma delas sabe que estou aqui dentro. Nenhuma delas sabe quem está do seu lado, louco também por um momento de êxtase, por um beijo que sua boca possa ofertar. Dividem a mesma lua - ou será o mesmo sol? - e não compartilham as horas do relógio. É cedo para uns, tarde para outros. Busca-se refúgios para solidão. Assim, talvez, como eu, que escrevo sem pensar e sem lamentar, a fim apenas de ver as horas passarem e, quem sabe, ver como num encanto o pesadelo se encerrar. Estou dramática hoje. Será? Talvez. De nada sei, é tudo que sei, já dizia o filósofo grego. Pra que buscar respostas? Pra que buscar perguntas? Para uma nova perspectiva, talvez. Como achar sentido na falta de um abraço? Como falar em social, se ao adentrar a noite não encontrarei ninguém diferente do que poderia encontrar em meu próprio quarto? Em meus sonhos, ao menos. Sem saber ao certo o que me guia, vou seguindo neste dilema como se meus dedos fossem teleguiados para escrever esta crônica enfadonha. Como num pedido de socorro, talvez... Temo ser chata, talvez já o esteja sendo. Pessoas sem alma são chatas. Será que perdi a alma afogada neste mar de solidão? Talvez.
Mas não... Não vá embora, é para você que eu falo. Não me deixe só. Faça-me acreditar que para além das paredes de meu quarto existe vida. Talvez existam seres que respiram e que não se importam de compartilhar seu ar e seus sonhos, sua vida e sua esperança. Quem sabe tenham esperanças? Ideais? Será que ainda existem ideais? Sou jovem ainda... Será? Tenho que acreditar nisto com todas as minhas forças. Quero ser guerreira, quero ser gente. Acreditar que ainda existe um mundo lá fora, que não são só paredes de concreto, que não é só o asfalto das ruas. Acreditar quem sabe que o ser humano ainda existe, que não estão todos virando robôs, máquinas frias, quem nem sabem sentir. Acreditar, quem sabe, que ainda há quem se comova com um crime, quem chore ao ver sangue derramado. Talvez ainda exista quem sorria com gosto, apesar das dificuldades. Quem sabe ainda exista até mesmo quem não se sinta afogado neste mar de solução? Eu disse de solução? Solidão... solução, talvez exista alguma. Quem pode me dizer? Gente mais corajosa, que não dê à cara a tapa, que não negue um beijo. Gente que acredita em gente. Quem sabe, talvez, exista até alguém disposto a me conhecer independente da distância? Mas para isso vou precisar sair do quarto. Será que vale a pena? Talvez... quem sabe. Esta pode ser a minha chance, esta pode ser a sua chance. Não coloque um muro entre nós. Vou sair da minha redoma. Saia da sua. Vamos dar as mãos, vamos tentar ser felizes. Quem sabe até fazer amigos, um churrasco de domingo, um choppinho, um gosto de quero mais? Não uma festa de aparência, mas uma alegria verdadeira dessas que contagia. Talvez, assim, desse jeito, um dia eu volte a acreditar no social, e aí, vamos escrever junto no nosso caderno que para haver vida tem que haver o outro, vamos escrever que nos preocupamos com os demais, que lutamos, que sonhamos, que temos um ideal que não é pessoal, mas SOCIAL. Quem sabe... Talvez.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ela agora se chama Cindy


Ela agora se chama Cindy. É um nome mais compacto, moderno e o y dá certo charme nestes tempos globalizados. Cinderela é um nome antigo, comprido demais para uma garota que vive em pleno século XXI e sonha ser estrela. Sim, estrela: aparecer em outdoors e capas de revistas, rodar o mundo se hospedando nos melhores hotéis, com a multidão de fãs clamando para que apareça na sacada e dê um breve adeus... Aquela história de príncipe encantado ficou para trás. Pra que só um príncipe encantado se pode ter uma legião de homens maravilhosos aos seus pés, todos com a cara do Brad Pitt e o charme de um Antônio Banderas?
Estamos na era do espetáculo e Cindy é uma garota antenada com seu tempo, não quer ficar pra trás. Canta funk muito bem e já aprendeu a fazer a dança do créu. Só tem um problema: Como adentrar no mundo do show buness sem uma empresária fada madrinha? Ela não tem cacife para bancar a implantação de silicone que tanto almeja. Uma garota moderna sabe quais os atributos necessários para vencer na vida...
Mas Cindy não para de sonhar. Já está planejando se inscrever no Big Brother. Quem melhor do que o gato do Pedro Bial para ser o seu padrinho? E de quebra, ainda vai poder mostrar pro Brasil inteiro que é muito mais mulher do que uma branquela que teima em concorrer com ela, mas só faz sucesso mesmo com anões. Ah, tem outra coisa: Cindy já sabe o que vai fazer com o milhão: encomendará a um design chiquérrimo milhares de sapatos de grife feitos sob medida para os seus pezinhos. Só não vão ser de cristal, porque, isto além de ser uma cafonice, machuca muito.





Elaine Christovam de Azevedo
Olá, pessoal

Bem-vindos ao Folhetimblog. Quero dividir com vocês um pouquinho de mim, um pouquinho de tudo. Crônicas, contos, tudo cabe neste espaço, por isso MixTotal, uma verdadeira salada, muito bem-temperada.
Folhetimblog em homenagem aos folhetins que tanto nos emocionam. Viva Balzac, viva Dostoiévski, todos os grandes autores de folhetins. Viva os autores de folhetins atuais, os teledramaturgos, os romancistas. Vamos viajar no sonho, fantasiar, dar asas a imaginação. Mas realidade também é bem vinda (assim como realismo fantástico).
Aqui cabe mesmo de tudo um pouco, de Harry Potter a Helena, de Machado de Assis (e por que não as de Manoel Carlos?). Um capítulo após o outro, um gancho, uma virada, como na vida...
E a cada fim de capítulo uma nova história.