terça-feira, 22 de setembro de 2009

Talvez... Quem sabe?

Não sei se a lua está cheia ou minguante. Faz algum tempo que sequer me aproximo da janela. Tenho medo do que o mundo lá fora reserva para mim. Ouço, daqui mesmo, vez por outra, o barulho de um pássaro que teima em cantar bem debaixo da minha janela ou de um avião ensurdecedor, um destes pássaros-monstros da atualidade.
Vocês devem estar pensando que enlouqueci, que me tranquei dentro da minha depressão e resolvi querer morrer, aqui, quietinha, dentro do meu quarto, sem que o resto do mundo sequer tome conhecimento da minha existência. Ou talvez pensem ao contrário, que fui atacada por uma súbita sensatez e a verdade se abriu diante dos meus olhos, como uma cortina de teatro. Talvez pensem na violência que ronda a noite lá fora, no tédio, nos amores impossíveis... Amor, o que será isto? Creio que descobriram o motivo da minha tristeza. Não penso mais nas horas, não sei se é dia ou noite. De que me vale caminhar lá fora, olhar as estrelas, olhar a vida, se aqui dentro de mim não encontro mais sentido para nada? Se tudo é sempre negro desde que ele partiu?
Não sei porque escrevo isto. Talvez simplesmente porque nunca fui boa com palavras. Elas me somem, como que roubadas, cada vez que vejo alguém a quem gostaria de comunicar algo, o meu amor que fosse. Não emergem até a boca, mal atravessam as cordas vocais. Daí a necessidade de escrever. Quem sabe assim alguém possa compreender o que eu mesma não consigo? Quem sabe assim eu possa gritar para o mundo - um grito silencioso - tudo o que a boca cala? Eu posso enfim ter esperanças de me comunicar com alguém que está fora de mim, de me fazer entender ao longe, nas mais remotas montanhas... Ou quem sabe, bem perto, aqui mesmo, onde não tenho coragem de ir.
Talvez vocês achem estas palavras vazias. Certa vez ouvi dizer que tudo tinha que ter um fundo social, uma crônica para ser boa tem que passar uma mensagem política. Mas o que será social? Existirá mesmo isso? É uma palavra que não existe ou uma invenção? Uma invenção, talvez de uma criança travessa que não tinha mais o que fazer. Social? Tema? Crônica? Tudo isto é invenção do humano, é dar sentido ao que não tem sentido. Neste momento estou aqui, trancada dentro de mim mesma. Lá fora, tão perto e tão longe, há alguém protegido por paredes de pedra, vendo TV ou dormindo o que chamam o "sono dos justos” (quem sabe ainda exista algum justo); ou quem sabe esse alguém que nem sabe que eu existo estará suando em uma danceteria, a procura de um novo amor, de uma transa que seja, ou beijando uma boca que acaba de conhecer, num delírio sensual? Será isto o que chamam de social? Neste momento, estou aqui, e lá fora, sob a lua, alguém estende a mão a um estranho em busca de uma esmola, mas este não o vê. Há uma criança chorando de fome e outra de dor de dente. Estou aqui, no meu mundinho, não posso ouvi-las. Mas quem está lá fora também não as ouve. Será isto o que chamam de social? Talvez...quem sabe.
Existem milhares de pessoas lá fora. Nenhuma delas sabe que estou aqui dentro. Nenhuma delas sabe quem está do seu lado, louco também por um momento de êxtase, por um beijo que sua boca possa ofertar. Dividem a mesma lua - ou será o mesmo sol? - e não compartilham as horas do relógio. É cedo para uns, tarde para outros. Busca-se refúgios para solidão. Assim, talvez, como eu, que escrevo sem pensar e sem lamentar, a fim apenas de ver as horas passarem e, quem sabe, ver como num encanto o pesadelo se encerrar. Estou dramática hoje. Será? Talvez. De nada sei, é tudo que sei, já dizia o filósofo grego. Pra que buscar respostas? Pra que buscar perguntas? Para uma nova perspectiva, talvez. Como achar sentido na falta de um abraço? Como falar em social, se ao adentrar a noite não encontrarei ninguém diferente do que poderia encontrar em meu próprio quarto? Em meus sonhos, ao menos. Sem saber ao certo o que me guia, vou seguindo neste dilema como se meus dedos fossem teleguiados para escrever esta crônica enfadonha. Como num pedido de socorro, talvez... Temo ser chata, talvez já o esteja sendo. Pessoas sem alma são chatas. Será que perdi a alma afogada neste mar de solidão? Talvez.
Mas não... Não vá embora, é para você que eu falo. Não me deixe só. Faça-me acreditar que para além das paredes de meu quarto existe vida. Talvez existam seres que respiram e que não se importam de compartilhar seu ar e seus sonhos, sua vida e sua esperança. Quem sabe tenham esperanças? Ideais? Será que ainda existem ideais? Sou jovem ainda... Será? Tenho que acreditar nisto com todas as minhas forças. Quero ser guerreira, quero ser gente. Acreditar que ainda existe um mundo lá fora, que não são só paredes de concreto, que não é só o asfalto das ruas. Acreditar quem sabe que o ser humano ainda existe, que não estão todos virando robôs, máquinas frias, quem nem sabem sentir. Acreditar, quem sabe, que ainda há quem se comova com um crime, quem chore ao ver sangue derramado. Talvez ainda exista quem sorria com gosto, apesar das dificuldades. Quem sabe ainda exista até mesmo quem não se sinta afogado neste mar de solução? Eu disse de solução? Solidão... solução, talvez exista alguma. Quem pode me dizer? Gente mais corajosa, que não dê à cara a tapa, que não negue um beijo. Gente que acredita em gente. Quem sabe, talvez, exista até alguém disposto a me conhecer independente da distância? Mas para isso vou precisar sair do quarto. Será que vale a pena? Talvez... quem sabe. Esta pode ser a minha chance, esta pode ser a sua chance. Não coloque um muro entre nós. Vou sair da minha redoma. Saia da sua. Vamos dar as mãos, vamos tentar ser felizes. Quem sabe até fazer amigos, um churrasco de domingo, um choppinho, um gosto de quero mais? Não uma festa de aparência, mas uma alegria verdadeira dessas que contagia. Talvez, assim, desse jeito, um dia eu volte a acreditar no social, e aí, vamos escrever junto no nosso caderno que para haver vida tem que haver o outro, vamos escrever que nos preocupamos com os demais, que lutamos, que sonhamos, que temos um ideal que não é pessoal, mas SOCIAL. Quem sabe... Talvez.

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